A panela Mágica

 

        Numa vila poeirenta depois da curva da estrada morava uma linda menina de cabelos cacheados, tão dourados como a luz do sol.

        Filomena é o seu nome, mas todos que a conheciam na vila chamavam-na de Filó.

        A família de Filó era muito pobre. Sua pobre mãe viúva tentava sustentar a família lavando roupas no riacho que passava atrás do casebre onde moravam.

        Filó ajudava a mãe nesta árdua tarefa. Quem levava as trouxas de roupa na cabeça para entregar aos donos era ela.

        Ela sempre se entristecia pois quase nunca recebia o pagamento pelo serviço.

        Certo dia ao voltar da cidade Filó viu uma menina muito linda. Ela parecia uma princesa dos contos de fadas.

        Filó ficou parada observando-a brincar com a boneca. No fogãozinho improvisado havia uma linda panelinha vermelha.

        Foi aí que Filó ouviu uma voz que dizia:

        _ Fale as palavras mágicas que ela cozinha.

        A menina então falou:

        _ Cozinhe, panelinha, cozinhe!

        Esperou... esperou e nada aconteceu. Com raiva a menina pegou a panelinha e jogou no chão. Bufando de raiva ela pegou a sua boneca e foi embora.

        Filó então se aproximou e pegou a panelinha vermelha. Percebeu que a panelinha não estava estragada só um pouco torta.

        Chegando em casa Filó escondeu a panelinha embaixo da cama. Não queria que sua mãe visse aquele tesouro.

        A barriga de Filó roncava de fome. Foi à cozinha. Num canto a mãe chorava pois não havia nada que pudessem comer. O dono da venda não quis vender fiado e ela não tinha dinheiro para pagar os alimentos.

        Filó foi procurar seus irmãos que brincavam no terreiro tentando esquecer a fome. Filó pegou uma pequena enxada e foi para a beira do riacho. Cavou a terra úmida. Debaixo daquela terra encharcada Filó recolheu as minhocas que pulavam afoitas tentando escapar das mãos de Filó.

        Chamou os irmãos e convidou-os para pescar. Cada um pegou uma vara e usando as minhocas como isca lançaram os anzóis na água. Ali ficaram por um bom tempo quando Filó sentiu que algo tentava puxar a vara de sua mão. Com muito esforço e ajuda dos irmãos eles retiraram o anzol e qual não foi a surpresa. Um grande peixe havia sido fisgado.

        Levaram o peixe para casa. A mãe fez um braseiro no terreiro e colocou o peixe para assar numa folha de bananeira.

        Naquela noite todos dormiram felizes pois a barriguinha não mais roncava de fome.

        No dia seguinte a mesma rotina e nada havia para comer.

        Filó se despediu da mãe e dos irmãos e foi se deitar.

        Rolava na cama de um lado para o outro sem conseguir dormir. Deu um salto da cama e lembrou-se da panelinha. Pegou-a com cuidado, colocando-a na mesinha. Tentava se lembrar das palavras ditas pela menina.

        De repente... uma voz estranha falou:

        _ Fale as palavras mágicas! E a panelinha irá fazer comida para você.

        Filó estava apavorada mas mesmo assim respondeu:

        Eu não sei quais são as palavras. Então a estranha voz repetiu:

        _ Cozinhe, panelinha,cozinhe! Disse e sumiu numa nuvem de fumaça.

        Filó olhava a panela sem coragem de falar. A barriga roncava alto de tanta fome. Olhou para a panelinha vermelha e disse:

        - Cozinhe, panelinha, cozinhe!

        No mesmo instante a panela começou a ferver. Com os olhos esbugalhados Filó viu surgir na panela uma sopa de creme de morangos. A panela parou de ferver. Ainda tonta de pavor Filó provou a sopa e percebeu que era deliciosa.

        Maravilhada com o acontecido levou a panelinha de sopa para a cozinha. Chamou a mãe e os irmãos. Filó contou-lhes a história da panelinha. Incrédulos mas famintos eles tomaram a sopa até se fartar.

        E assim todas as noites Filó falava as palavras mágicas e uma nova sopa ainda mais deliciosa era cozida na panela.

        Muitos anos se passaram. Filó já é uma moça. Agora ela vende sopa numa “soperia” de sua propriedade.

        Filó não ficou rica vendendo sopa mas nunca mais passou fome.

        E a panelinha vermelha continua cozinhando sopas deliciosas!

(Gracita Fraga)