sábado, 28 de junho de 2025

Uma palavra, um conto

 

Participando da proposta da Norma Emiliano de escrever um conto com a palavra EXCESSO

A Ilha da Abundância

        Era uma vez, em um canto esquecido do oceano, uma ilha peculiar conhecida como A Ilha da Abundância. Não faltava nada ali. As árvores davam frutos de todos os sabores em todas as estações. Os rios corriam com águas tão puras que curavam qualquer mal. O sol brilhava sempre, e a chuva caía apenas o suficiente para fertilizar a terra sem incomodar. Os habitantes, inicialmente, viviam em êxtase. Tinham tudo o que podiam desejar, e mais.

        No entanto, o excesso começou a cobrar seu preço. Ninguém precisava trabalhar, então os dias se tornaram tediosos e vazios. As frutas, antes deliciosas, perderam o sabor quando podiam ser colhidas sem esforço em qualquer esquina. A água cristalina já não era valorizada, pois jorrava sem parar. As pessoas pararam de conversar, pois não havia escassez para compartilhar, nem desafios para superar juntos. O riso deu lugar a um silêncio pesado, preenchido apenas pelo farfalhar das folhas e o murmúrio constante dos rios.

        Um dia, uma menina curiosa chamada Cora observou uma flor rara que havia brotado em uma fenda rochosa. Para alcançá-la, ela precisou se esticar, equilibrar-se e sentir o leve arrepio da dificuldade. Ao segurar a flor em suas mãos, uma sensação nova a invadiu: satisfação. Era a primeira vez em muito tempo que algo exigia um mínimo de esforço.

        Cora percebeu então que a verdadeira riqueza não estava na quantidade, mas na escassez que dava valor às coisas, na luta que trazia significado à conquista. Ela começou a compartilhar sua descoberta, a mostrar aos outros a beleza de um único pôr do sol apreciado, o sabor de um fruto colhido com cuidado. Lentamente, a ilha começou a acordar. Os habitantes, antes presos na armadilha da fartura, começaram a redescobrir o prazer do simples, da conquista pessoal e da conexão humana que o excesso havia roubado. A Ilha da Abundância não se tornou menos abundante, mas seus moradores aprenderam que a verdadeira felicidade reside no equilíbrio, e não no mero acúmulo.

(Gracita Fraga)


Um comentário:

  1. Que lindo,Gracita! E até a fartura e facilidades em excesso causa transtornos! Tudo fica moleza e fácil demais! Ainda ben CORA conseguiu recuperar a sdatisfação do esforço!
    beijos, lindo domingo, chuica

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